Semana Santa e Páscoa
.Nosso Senhor Jesus dos Passos: Algarvios acompanham os últimos momentos da vida de Cristo
A “Procissão dos Passos”, como habitualmente é conhecida, é uma tradição comum a muitas Paróquias algarvias, embora ganhe uma dimensão maior em algumas cidades, como Silves e Tavira. O cortejo dos crentes evoca o trajeto de Jesus, desde a condenação à pena capital até à morte por crucifixão, sendo marcada pelo encontro com a sua mãe, que, segundo a tradição, ocorreu durante a subida até ao Calvário, local onde foi executado.
As cerimónias em honra de “Nosso Senhor Jesus dos Passos” são uma invocação do martírio de Jesus Cristo e uma devoção especial na Igreja Católica a ele dirigida, que remonta à Idade Média, quando os cruzados visitavam os locais sagrados de Jerusalém por onde andou Jesus, reproduzindo espiritualmente este caminho quando regressaram à Europa, sob forma de dramas sacros e procissões, ciclos de meditação, ou estabelecendo capelas especiais nos templos. No século XVI fixaram 14 momentos principais deste trajeto, embora o número tenha variado na história do catolicismo de 7 a 39. Estes pontos principais são chamados de as estações ou os passos da Paixão de Cristo ao longo da Via-sacra ou Via Crucis.
Em Silves, a “Procissão dos Passos” é organizada pela Confraria do Nosso Senhor dos Passos. Esta tradição ancestral da cidade, durante muitos anos trouxe-lhe grandes quantidades de visitantes durante a época quaresmal/pascal, uma vez que a grandiosidade das celebrações era somente comparável à das festas de Sevilha ou de Tavira e relembrada pelos mais antigos como um ato de grande solenidade e respeito, sendo comum ouvir-se: “Passos em Silves, Ramos em Tavira e Endoenças em Sevilha”. As ruas da cidade, por onde passava a procissão, cheiravam a rosmaninho, as sacadas e as janelas das casas cobriam-se de colchas e apresentavam um colorido diferente. Num passo certo e silencioso as pessoas davam alma a um cenário iluminado pelas suas velas, tendo como fundo os sons melódicos da Banda que as acompanhava.
Em Tavira, esta procissão também marca o início das celebrações ligadas à Páscoa. A cidade também acolhe, nas suas principais artérias, as imagens de Cristo, que saem da Igreja de São Francisco
Diversas outras Paróquias realizam esta procissão. A saber:
Silves – no IV Domingo Quaresma
Pêra – no III Domingo Quaresma
Paderne – no V Domingo Quaresma
Albufeira – no III Domingo Quaresma
S. B. Alportel – no V Domingo Quaresma
Olhão – no III Domingo Quaresma
Portimão – no Domingo de Ramos
Raposeira – no II Domingo Quaresma
Lagoa – no V Domingo Quaresma
Monchique – no V Domingo Quaresma
Estoi - no V Domingo Quaresma
Faro - Domingo de Ramos; parte da Igreja de São Pedro
Domingo de Ramos: Procissões Algarvias recordam entrada triunfal de Jesus em Jerusalém
O Domingo de Ramos é a festa litúrgica que celebra a "entrada triunfal" de Jesus em Jerusalém, exatamente uma semana antes da sua ressurreição (Mateus 21:1-11). Cerca de 450-500 anos antes, o profeta Zacarias havia profetizado: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta" (Zacarias 9:9). Mateus (21:7-9) regista o cumprimento dessa profecia: "(...) trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então, puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!"
A festa tem esse nome, por causa dos ramos de palmeira que foram colocados no caminho de Jesus, ao entrar em Jerusalém. Esses mesmos ramos são levados pelos fiéis para suas casas, após a sua bênção, para os recordarem, ao longo do ano, que são batizados e estão unidos a Cristo na mesma luta pela salvação do mundo.
Este evento aconteceu no domingo antes da crucificação de Jesus e marca a abertura da Semana Santa e para além de permitir que se recorde a história e a cronologia desses acontecimentos, antecipa a glória da ressurreição e a majestade de Cristo, Rei da Vida e da Morte.
Acredita-se que procissão do Domingo de Ramos terá surgido após um grupo de cristãos ter realizado uma peregrinação a Jerusalém e, ao retornar à sua região, ter procedido tal como havia feito nos lugares santos, quando percorreram os lugares onde Jesus havia estado, lembrando os momentos da Semana Santa. Os relatos dessa peregrinação à Cidade Santa constam de um manuscrito dos finais do século IV, escrito por Etéria, uma das peregrinas (ver João Paulo II, 1998, ponto 14). Dois terços do documento foram perdidos, daí saber-se pouco desta figura, senão que ela visitou a Terra Santa entre 381 e 384, tendo ali chegado vinda da Galiza ou da Aquitânia. Esta narração esteve perdida durante 700 anos. A única cópia ainda existente do manuscrito era do século XI e encontrava-se conservada em Arezzo, onde foi redescoberta em 1884.
O costume de recriar a entrada triunfal do Cristo na Cidade passou a ser utilizado gradualmente e, no final da Idade Média, foi incorporado aos ritos da Semana Santa.
No Algarve, são várias as Paróquias que realizam esta procissão, mas ela tem particular dimensão em Tavira, onde toma o nome de “Procissão do Triunfo” e é organizada pela Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo do Monte. Parte da Igreja do Carmo e é composta por nove andores de talha dourada, os quais descrevem os últimos momentos da vida de Cristo, desde o Monte das Oliveiras, até à sua morte. Existem registos que dão conta que esta manifestação religiosa já se organizava no ano de 1789, pela Ordem Carmelita da cidade de Tavira, já que em Portugal, as procissões no Domingo de Ramos eram da responsabilidade dos irmãos carmelitas.
Vejamos, então, os locais onde se realiza esta procissão:
Silves – no Domingo de Ramos
Pêra – no Domingo de Ramos
Paderne – no Domingo de Ramos
Guia – no Domingo de Ramos
Tavira (Paróquia de Santa Maria), Procissão do Triunfo – no Domingo de Ramos
Quinta-feira Santa: Humildade de Jesus e última ceia são relembrados pelas paróquias algarvias
A Quinta-feira Santa (ou Quinta-feira de Endoenças) é a quinta-feira imediatamente anterior à Sexta-feira da Paixão, da Semana Santa, dia que assinala o fim da Quaresma e o início do Tríduo Pascal, assim como recorda a última ceia de Jesus Cristo com os Apóstolos, momento em que Cristo partiu o pão e distribuiu o vinho: «E tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós.» (Lucas 22:19-20).
Nesta ocasião, Jesus também teve um gesto significativo, que marca as celebrações de Quinta-feira Santa: lavou os pés dos discípulos num gesto de humildade e serviço, exortando-nos, com o Seu exemplo, a amar e servir um ao outro em humildade: «Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. (…) Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.» (João 13:4-17)
Assim, na Quinta-feira Santa celebra-se um pouco por todo o Algarve (e no mundo) uma Eucaristia que recorda a última ceia. Em algumas localidades, nesta Missa, faz-se o “lava-pés”, durante o qual o sacerdote, novamente em memória do gesto de Cristo para com os seus apóstolos, lava os pés de uma ou mais pessoas.
Tem lugar, ainda, a “Missa dos Santos Óleos ou Missa Crismal”, já que a Igreja celebra a instituição do Sacramento da Ordem e a bênção dos santos óleos usados nos sacramentos do Batismo, do Crisma e da Unção dos Enfermos e os sacerdotes renovam as suas promessas. Esta é celebrada apenas pelo bispo na sede da diocese.
Recordamos, ainda, que Cristo ceou com seus apóstolos para cumprir a tradição judaica do Sêder de Pessach, na qual se comia um cordeiro puro, recordando a saída do povo judeu do Egipto, guiado por Moisés e a travessia do Mar Vermelho, tal como é relatado no livro do Êxodo. Para os católicos, o cordeiro pascal é o próprio Cristo, entregue em sacrifício pelos pecados da humanidade e dado como alimento por meio da hóstia.
A expressão “Endoenças” significa perdão, já que vem do latim indulgentia, que acabaria por permanecer no idioma português como indulgência e indulto. Assim, os dias de “Endoenças” seriam dias de perdão e de concessão de indulgências.
Procissão do Senhor morto é tradição de Sexta-Feira Santa no Algarve
A Sexta-Feira Santa, ou “Sexta-Feira da Paixão”, é a Sexta-Feira antes do Domingo de Páscoa. É a data em que os cristãos lembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura de Jesus Cristo.
Na Igreja Católica, este dia pertence ao Tríduo pascal, o mais importante período do ano litúrgico. A Igreja celebra e contempla a paixão e morte de Cristo, pelo que é o único dia em que não se celebra, em absoluto, a Eucaristia. Todavia, mesmo sem a celebração da missa, tem lugar, no rito romano, uma celebração litúrgica própria deste dia. Tal celebração tem alguma semelhança com a celebração da Eucaristia, na sua estrutura, mas difere essencialmente desta pelo facto de não ter Oração Eucarística, a mais importante parte da missa católica (nas celebrações que se realizam por todo o mundo são consumidas as hóstias consagradas no dia anterior, durante as celebrações da instituição da Eucaristia).
A celebração da morte do Senhor consiste, resumidamente, na adoração de Cristo crucificado, precedida por uma liturgia da Palavra e seguida pela comunhão eucarística dos participantes. O sacerdote que preside está paramentado com a cor vermelha, para assinalar precisamente a paixão e morte de cristo, já que esta é a cor litúrgica associada ao fogo do Espírito Santo/Pentecostes e é a cor dos mártires.
Segundo a tradição cristã, a ressurreição de Cristo aconteceu no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, no calendário hebraico. A mesma tradição refere ser esse o terceiro dia desde a morte. Assim, contando a partir do domingo, e sabendo que o costume judaico, tal como o romano, contava o primeiro e o último dia, chega-se à sexta-feira como dia da morte de Cristo.
A Sexta-feira Santa é um feriado móvel que serve de referência para outras datas. É calculado como sendo a primeira Sexta-feira após a primeira lua cheia depois do equinócio de Outono no hemisfério sul ou o equinócio de Primavera no hemisfério norte, podendo ocorrer entre 20 de março e 23 de abril.
Em algumas localidades, a Celebração da Paixão e Morte do Senhor é procedida da Procissão do Enterro, também conhecida como Procissão do Senhor Morto, durante a qual predomina o silêncio e a luz das tochas e das velas, que os fiéis transportam. O Senhor segue, ou num pequeno tombinho, ou numa imagem que o representa acabado de descer da cruz. Este ato religioso foi estabelecido, em Portugal, nos séculos XV e XVI, passando a integrar as celebrações tradicionais da Semana Santa.
No Algarve há várias localidades onde esta procissão tem particular significado:
Silves – Sexta-feira Santa
Tavira - Sexta-feira Santa
Paderne - Sexta-feira Santa
Domingo de Páscoa: Procissões com flores e crianças assinalam a Ressureição de Jesus no Algarve
A Páscoa cristã celebra a Ressurreição de Jesus Cristo. Depois de morrer na cruz, seu corpo foi colocado em um sepulcro, tendo ali permanecido por três dias, até sua ressurreição. Assim, na manhã do terceiro dia, as mulheres e os discípulos encontraram o túmulo aberto e vazio: «E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. (…) voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Rabi (que quer dizer, Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.» (João 20:11-18)
É o dia santo mais importante da Igreja Católica, dia que assinala a esperança na vida eterna e recorda a morte do pecado, através do sacrifício de Jesus Cristo, morto pela Humanidade.
Muitos dos costumes ligados ao período pascal têm origem na celebração do Pessach, a Páscoa judaica, que é uma das mais importantes festas do calendário judaico, celebrada por 8 dias e onde é comemorado o êxodo dos israelitas do Egito, da escravidão para a liberdade. Um ritual de passagem, assim como a "passagem" de Cristo, da morte para a vida. Aliás, a palavra Páscoa (do hebraico Pessach) significa passagem. No português, como em muitas outras línguas, a palavra Páscoa tem origem no hebraico Pessach.
No Algarve, as celebrações do Domingo de Páscoa assumem particular relevância, já que nesta região tem lugar uma procissão única no país: a Procissão das Tochas Floridas (S. Brás de Alportel), ou Procissão Real (Monchique e Silves), ou Procissão das Flores (Silves), ou Procissão das Campainhas (S. Clemente, Loulé), ou Procissão do Triunfo, ou Procissão da Ressurreição de Cristo, ou, ainda, Procissão do Santíssimo Sacramento (Lagoa). Esta procissão assinala, seja qual for a sua designação, a vitória de Cristo sobre a morte e a Sua realeza.
Festa das tochas de S. Brás de Alportel é única no país
Particular destaque tem a Festa das Tochas Floridas e Procissão de Aleluia que se realizam em S. Brás de Alportel.
Para além do seu sentido religioso, ela comemora um dos mais heróicos acontecimentos históricos do Algarve: a expulsão, pela confraria dos moços solteiros, das tropas inglesas comandadas pelo duque de Essex, que em Julho de 1596 saquearam a cidade de Faro e o seu termo.
Festas das Tochas - São Brás de Alportel
Outrora, as confrarias eram obrigadas a levar uma tocha acesa ou luminária e opas vestidas. Posteriormente, a falta de cera levou ao aparecimento de paus pintados e ornamentados com flores, no cimo do qual se colocava uma pequena vela. Mais tarde, com o desaparecimento das confrarias, permanecem na procissão os paus enfeitados, as lanternas e as velas acesas ao lado do pálio e as opas, que ainda hoje são trajadas pelos homens que transportam o pálio.
A procissão percorre as ruas decoradas por caprichosos tapetes de flores da vila de S. Brás, enquanto o povo grita em uníssono: «Aleluia. Cristo ressuscitou como disse, aleluia, aleluia, aleluia». Ao longo da procissão, sempre se cantaram hinos, responsos e o Aleluia, em honra da Ressurreição do Senhor. Noutros tempos havia um ou dois coros a cantar e o povo respondia, mas com o passar do tempo, a falta de clero e de cantores, levou a que o canto ficasse na boca do povo.
No final, as “tochas”, simples hastes coloridamente decoradas com flores (ramos de alfazema, rosmaninho e flores campestres) e transportadas exclusivamente por homens que e formam as alas da procissão, são prostradas na calçada juntando-se ao vasto tapete florido, magnífico trabalho de mãos voluntariosas, sobre o qual o sacerdote caminha durante mais de 1 km, ao mesmo tempo que carrega o Santíssimo, numa Custódia. Para construir esta verdadeira obra de arte, são precisas três toneladas de flores, num trabalho que resulta do esforço de uma centena de voluntários. Depois de uma árdua semana de trabalho, na apanha e preparação das flores, é na véspera do Domingo de Páscoa, que todos os minutos são poucos, noite fora, até ao amanhecer, para que, quando o sol chegar, possa fazer-se brilhar o magnífico tapete florido, que descreve o percurso da Procissão.
Festas das Tochas - S. Brás de AlportelAs colchas nas janelas, as varandas engalanadas e o tapete florido, completam o cenário de uma das mais belas e genuínas procissões do país. Em seguida, o prior celebra uma missa campal à qual assistem milhares de fiéis, na mais completa devoção.
Também se realiza um concurso escolher as mais belas tochas e varandas da procissão, estratégia definida para melhor preservar este património etnográfico de S. Brás.
Religiosidade e gastronomia: A Fé associada às tradições pascais da “boa mesa”
Tocam os sinos nos campanários, as bandas filarmónicas acompanham os cortejos religiosos e decoram-se as sacadas e as janelas com as mais ricas colchas da casa. No domingo de Páscoa, come-se o cordeiro, o pão, o vinho, as favas perfumadas com hortelã e os enchidos caseiros, a que se juntam o folar doce com ovos cozidos por cima, as amêndoas tenras e as amêndoas de pinhão. É assim a Páscoa no Algarve - a festa dos rituais pagãos da Primavera e a celebração cristã da ressurreição.
«No Algarve a festa pascal apresenta algumas diferenças etnográficas entre a serra e o litoral. No interior, onde as populações rurais viviam com maior dificuldade, e muitas vezes sem o apoio religioso minimamente indispensável, apenas prevalecia a prática do jejum nos dias santificados e a realização de pequenos bailes no terreiro da igreja no próprio Domingo de Páscoa. Nesse dia comia-se um pouco melhor, geralmente uma peça de carne de porco, carneiro ou, no pior dos casos, um frango; os doces só se faziam nas casas abastadas e resumiam-se à tradicional doçaria de amêndoa e figo. No litoral, a tradição era bastante mais rica. Faziam-se procissões na Semana Santa, pagavam-se as promessas, guardava-se jejum nos dias próprios, faziam-se oferendas, etc... No Domingo de Páscoa davam-se grandes festas nas casas ricas dos comerciantes e industriais, comia-se borrego ou carneiro assado, reunia-se a família e realizavam-se alguns jogos tradicionais. Em matéria de doçaria faziam-se os folares de mel, bolos finos de amêndoa delicadamente decorados, bebiam-se vinhos generosos das regiões de Lagos e Tavira, para além dos acostumados bailes nas sociedades recreativas e clubes populares.
(artigo publicado no «Diário de Notícias» em 22-04-1984) José Carlos Vilhena Mesquita in A Páscoa no Algarve)
Também para preservar estas tradições, os Municípios organizam eventos que permitem aos visitantes, conhecer e deliciar-se com os petiscos da época.
Folares da Páscoa
Folares da Páscoa
O “Folar da Páscoa” tem particular importância nesta região: doce e perfumado com canela e erva-doce, decorado com ovos inteiros, ele assume-se como uma das mais importantes iguarias algarvias desta quadra.
Localidades como São Marcos da Serra (concelho de Silves), Paderne (Albufeira), Lagos e Loulé fazem, mesmo, festivais, onde a estrela é este pão doce.
Segundo Maria de Lourdes Modesto (reputada Chefe de Cozinha nacional) e Afonso Praça o “folar seria uma espécie de contraponto do pão ázimo que tem o peso teologal do sacrifício e da penitência” e, em termos culinários, é genericamente uma massa levedada com fermento padeiro, com mais ou menos ovos e decorado com açúcar e outos ovos, que cozem ao mesmo tempo que a massa.
Para muitos, folar, era o presente que os padrinhos e madrinhas davam aos seus afilhados na Páscoa. Era também folar aquilo que os Párocos recolhiam e comiam nas casas dos seus paroquianos, durante a visita pascal, que acontecia Domingo de Páscoa e se prolongava por Segunda-feira.
Veja a receita em aqui.